O mundo enfrenta a pandemia da COVID-19, causada pelo SARS-CoV-2, o qual teve seu surgimento em Wuhan no mês de dezembro de 2019, na China. O coronavírus é capaz de causar uma Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), levando a óbito milhares de pessoas. Os sinais e sintomas mais comuns incluem cefaleia, febre, tosse, dispneia, diarreia e pneumonia. Contudo, com o aumento crescente de indivíduos infectados, novos sinais e sintomas estão sendo descobertos, existindo uma variação das manifestações entre os indivíduos infectados.
Em maio de 2020, estudos descreveram lesões em cavidade oral, como possíveis manifestações da COVID-19. Foram observadas lesões ulceradas em lábios; lesões compatíveis com eritema multiforme; gengivite descamativa e múltiplas úlceras amareladas com um halo eritematoso (avermelhado) em região de palato duro (céu da boca), que se assemelhavam a lesões herpéticas. Essas manifestações podem estar associadas ao aumento de citocinas que podem resultar em danos teciduais, principalmente em mucosa. Apesar dessa explicação, não foi possível confirmar sua relação com o novo SARS-CoV-2 (Carreras ‐ Presas et al. 2020).
A disgeusia/ageusia, são outros sintomas podem ser citados na cavidade oral, como que se caracteriza pela alteração ou ausência do paladar, respectivamente, e a xerostomia, que compreende a sensação de boca seca, muitas vezes em decorrência da diminuição do fluxo salivar.
Uma das prováveis explicações dessa sintomatologia se deve ao fato de as papilas gustativas possuírem receptores gustativos que são amplamente distribuídos na cavidade oral, principalmente no dorso de língua. Mas além dessas papilas, o dorso lingual também é repleto de receptores da Enzima Conversora da Angiotensina 2 (ECA2), a qual o SARS-CoV-2 se liga para entrar na célula hospedeira. Dessa forma, os receptores gustativos também podem ser infectados, e consequentemente haverá a perda do paladar. A disgeusia/ageusia já são consideradas sintomas característicos da COVID-19, mas ainda não há tratamento específico para esses sintomas. Contudo, são reversíveis e desaparecem duas semanas após a recuperação do paciente.
Sobre a xerostomia, acreditam estar interligada com a própria alteração no paladar, pois o sabor é um dos principais estimuladores da produção salivar. Em um estudo, foi apontado que 50% dos indivíduos infectados que apresentavam alteração de sabor também demostraram ter hipossalivação e xerostomia.
Por se tratar de uma novo vírus, a ciência ainda está no processo de compreender como o mesmo funciona e se manifesta no corpo humano, pois, o consenso na comunidade científica que a cavidade oral pode apresentar indícios de diversas doenças sistêmicas, bem como reações a agentes externos. Até o momento, o nível de evidência científica é insuficiente para apoiar a caracterização de uma manifestação oral específica, ou mesmo não específica, do COVID-19. Assim, neste momento é difícil afirmar que a ocorrência de lesões orais está diretamente relacionada à COVID ‐ 19. Mais estudos e investigações precisas são necessários para confirmar se as lesões estão associadas ao vírus SARS-CoV-2 ou outras infecções virais orais, como HSV-1, com reações de hipersensibilidade induzida por drogas ou com qualquer outra condição de deficiência imunológica. Para que isso seja possível, é importante ressaltar a seriedade em executar uma anamnese e um exame físico de forma efetiva e criteriosa.
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